A Fada do Bosque
Em uma cabana simples no bosque, vivia uma viúva com suas duas filhas. Elas eram meninas muito prestativas e gentis. Todos os dias ajudavam a mãe sem reclamar. A mãe cozinhava, a mais velha ficava com os afazeres da casa e Hortênsia, a mais nova, cuidava da horta e saia pelo bosque em busca de frutas e toras de madeira para o forno e lareira.
Um dia, sua mãe pediu para que ela colhesse algumas amoras no bosque. Elas já haviam comido todas ali por perto, então, Hortênsia resolveu pegar um caminho diferente para ver se encontrava algumas. Se espantou ao ver uma fumaça de longe e um cheirinho bom de bolo assando. Foi chegando mais perto e viu uma senhora muito velha com um machado tendo muita dificuldade para cortar um pedaço de madeira:
-Deixa que eu ajudo a senhora. – Hortênsia logo foi ajudar com um simpático sorriso no rosto.
-Obrigada, menina. Já sou uma velha fada, não tenho mais forças para cortar minha própria lenha. – disse a fada.
A fada entrou para dentro da casa e disse que quando a menina terminasse, entrasse para tomar um chá com um bolo fresquinho.
-Terminei dona fada.
-Fada Doce, querida. Coma um pedaço de bolo. Estava pensando se você não gostaria de fazer um favor para essa velha fada … Você poderia limpar minha casa?
-Claro. Esse bolo está uma delícia! É o melhor bolo que já comi.
-Obrigada! Eu adoro fazer bolos! Aprendi com minha mãe que fazia os melhores bolos do mundo. Bom, Hortênsia, em troca de seus serviços lhe darei uma recompensa.
-Tudo bem. O que a senhora quer que eu faça?
-Arraste todos os móveis, tire a poeira, varra, passe pano e tire as teias de aranha.
A casa não estava muito suja, só a cozinha tinha muita farinha espalhada. A fada adorava bolos e os fazia diariamente.
Limpando a casa ela encontrou uma teia de aranha bem no cantinho da estante onde ficavam alguns livro, quando foi passar o espanador:
-Não Hortênsia! Por favor, não tire minha teia de aranha! – implorou a pequena aranha.
-Mas eu tenho que tirar ou a Fada Doce brigará comigo, me desculpe.
-Meus filhotes estão depositados na minha teia, você vai os matar. – disse a pequena aranha chorando.
Vendo a aflição da aranha, Hortênsia combinou que enquanto os filhotes não nasciam ela iria deixar aquela teia em paz, mas que depois, a aranha fizesse sua teia em outro lugar. A pequena aranha ficou muito agradecida.
No final do dia a Fada Doce perguntou se Hortênsia poderia voltar outras vezes para ajudá-la e deu como recompensa a menina um vestido azul de seda pura com fios de ouro. Hortênsia ficou radiante de felicidade.
Em casa mostrou para sua mãe e sua irmã que ficaram de boca aberta. Sua irmã perguntou:
-Será que se eu ajudar a fada ela não me daria um também?
-Não precisa. Sei que os trabalhos da casa são muito mais que os que eu faço. O próximo que ela me der, eu dou a você. – prometeu a menina guardando seu vestido no baú e foi dormir.
Resolveu ir a casa da fada novamente para ver se ela precisava de ajuda. Hortênsia limpou e fez tudo como a fada gostava, comeu um pedaço de bolo, pão e chá. A fada deu como recompensa dessa vez um lindo par de brincos de ouro com diamantes:
-Hortênsia, estou gostando muito de como você está limpando a casa e me ajudando.
-Fico feliz, Fada Doce.
Como prometeu um vestido para a irmã, quando chegou em casa, deu o seu próprio vestido para ela. Guardou seu par de brincos e foi dormir.
O dia de ir ao encontro da fada havia chegado novamente e lá foi Hortênsia pelo caminho do bosque.
Sua irmã estava deslumbrada com o vestido:
-Olha mamãe! Não é a coisa mais linda que já se viu?
-É sim minha filha, mas onde você vai toda arrumada assim? – disse a mãe sorrindo.
-Vou até o jardim usando o vestido, já que não tenho onde ir com ele.
E lá foi a irmã que era muito bonita e penteada com o vestido, nem se fala. Um príncipe que passava por ali com mais dois soldados avistou aquela moça que mais parecia uma visão e pensou:
-Será uma miragem ou estou vendo o ser mais lindo dessa Terra?
Ele foi chegando perto e pediu um copo de água para ele e os soldados. O tempo passou e eles ficaram ali conversando. Pediu permissão para voltar e ela concedeu.
Hortênsia chegou em casa com um par de sapatos de veludo costurado em ouro que não pesava mais que uma teia de aranha. A irmã logo contou a ela toda história que se passou naquela tarde. Hortênsia ficou intrigada e resolveu alertar a irmã:
-Querida irmã, muito cuidado, o príncipe não se casaria com meninas como nós. Não somos princesas e não temos nada.
A irmã estava disposta a acreditar que esse príncipe não seria assim.
No dia seguinte, o príncipe voltou. Hortênsia que varria o quintal, foi chamar sua irmã que veio correndo toda feliz. Eles ficaram ali conversando com olhares apaixonados.
Hortênsia não gostou do que estava acontecendo ali e sentiu muita raiva.
Mais um dia de trabalho na Fada Doce. Como sempre, ela fez tudo certinho, comeu as delícias da fada, mas hoje estava calada e com uma feição dura:
-O que aconteceu, Hortênsia? Você é sempre tão feliz e sorridente – disse a fada.
-Não é nada demais, Fada Doce. Não se preocupe.
-Vou tentar animá-la com uma recompensa diferente hoje. Preste bem atenção … A primeira coisa tocar com sua mão esquerda virará ouro maciço, então, tome muito cuidado! – alertou a Fada – use essa luva de pelica e só tire quando tiver certeza do que irá tocar.
De fato Hortênsia ficou animada com essa recompensa e logo começou a pensar no que iria tocar.
-Pode deixar. Muito obrigada Fada Doce! – e foi para casa.
A irmã e o príncipe entraram de mãos dadas pela porta da casa dando a notícia de que iriam se casar pela manhã. A mãe ficou muito feliz e abraçou os dois. Hortênsia deu os parabéns e foi para o seu quarto. Sua irmã foi logo atrás:
-Não está feliz por mim, minha irmã?
-Estou. Só estou cansada e quero dormir.
A irmã saiu do quarto deixando que a menina descansasse.
Uma tempestade muito forte caiu deixando o bosque em lama pura. O príncipe acabou tendo que passar a noite na humilde cabana. A irmã o colocou para dormir na sala junto a lareira e foi para o quarto onde dormia com Hortênsia.
No meio da noite, Hortênsia sentiu sede, levantou e foi até a cozinha beber um pouco de água. Quando olhou e viu o príncipe perto da lareira sua fúria retornou. Ele iria levar sua irmã embora dali e ela não estava pronta para isso. Então, tirou sua luva, foi chegando sua mão perto do rosto do príncipe e o tocou. Imediatamente ele se transformou em ouro maciço.
Pela manhã, a irmã o encontrou deu um grito e caiu os prantos:
-O que aconteceu? Um feitiço? Eu sou amaldiçoada. Ele é o grande amor da minha vida. Não vejo razão para viver mais.
Ouvindo essas palavras, Hortênsia gelou por dentro e foi consolar a irmã:
-Não seja boba. Você vai esquecê-lo. Aparecerá outro rapaz.
Os dias se passaram e a irmã ficou gravemente doente de cama. Estava doente de amor. A mãe estava triste e Hortênsia também:
-O que eu fiz? – lamentou arrependida.
Foi correndo até a Fada Doce e implorou para que o feitiço fosse desfeito. A fada disse que não poderia desfazer o feitiço e que sentia muito:
-Eu disse a você para pensar muito bem no que transformaria em ouro, Hortênsia. O que você fez foi puro egoísmo. Você precisa aprender com suas escolhas e ações.
Hortênsia se jogou aos pés da fada chorando e implorando que ela a ajudasse. A fada vendo o desespero da menina e o amor pela irmã que estava quase morta, resolveu dar uma chance:
-Pois bem, lhe darei uma tarefa para reverter esse feitiço. Quando eu era pequenina minha mãe fazia um bolo que era o meu preferido, era fofo e assado com perfeição, recheado e molhado por dentro. Sou uma velha fada que já não tenho muitas alegrias, comer um bolo assim me traria uma grande felicidade. Você terá 3 chances para acertar.
Hortênsia agradeceu, mas foi para casa nervosa e com muitas dúvidas: Qual será esse bendito bolo?!, pensou.
Resolveu tentar reproduzir os bolos que ela havia comida na casa da fada. Começou fazendo um bolo de chocolate com uma cobertura lisa e brilhosa, por dentro um recheio de avelã e por cima castanhas torradas. O bolo estava fofo e perfeitamente assado. Levou o bolo para a Fada Doce que disse que o bolo estava muito bom, mas que esse não era o bolo que sua mãe costumava fazer para ela.
Hortênsia se desesperou e foi mais uma vez pensar em qual bolo faria. Resolveu então, fazer um bolo de massa branca com um toque de baunilha, recheio doce com frutas e uma cobertura branca de merengue. Esse bolo também estava fofo e perfeitamente assado. Fada Doce experimentou o bolo, disse que estava maravilhoso, mas que não era o bolo que sua mãe costumava fazer para ela. Hortênsia implorou:
-Fada Doce, por favor, me dê uma dica, eu só tenho mais uma chance.
A fada ficou calada e subiu para seu quarto.
Hortênsia sentou na porta da casa da fada aos prantos. Levantou e quando já estava de saída ouviu alguém chamar:
-Hortênsia! Hortênsia! Olhe para baixo! – era a pequena aranha – Não chore! Eu vou ajudá-la. – A aranha pediu pra que Hortênsia esperasse atrás de uma árvore perto da casa. Alguns minutos depois a pequena aranha voltou com um papel enrolado:
-Aqui está. Essa é a receita do bolo da mãe da Fada Doce.
-Aranha! Muito obrigada! Não sei como lhe agradecer!
-Não agradeça ainda. A Fada Doce não faz muito esse bolo porque um dos ingredientes não se encontra por aqui e ela diz que não se pode ficar usando magia á toa. Creio eu que você terá de buscar em outro reino.
-Eu irei, não tem problema. Muito obrigada aranha !
Hortênsia chegou em casa, abriu o papel e viu que era um bolo de limão e o ingrediente que faltava era um tipo de limão específico. Ela foi até um comerciante da feira e pediu que ele trouxesse esse limão para ela e ofereceu a ele seus pares de sapatos de veludo e ouro e seus brincos de ouro com pedras preciosas. O comerciante aceitou e disse que traria seu pedido o mais rápido que ele conseguisse.
Passados 6 dias, ele voltou com os limões. Hortênsia fez o bolo com toda calma. Ficou perfeito. Levou até a fada que fez cara de espanto quando viu um bolo de limão em suas mãos. Provou e uma lágrima escorreu de seu rosto:
-Esse bolo me emocionou, me lembrou minha querida mãe. Guarde essa lágrima de fada e jogue nos lábios do príncipe que ele voltará a sua forma humana.
Hortênsia correu com o frasco que continha a lágrima da fada para o castelo, onde o príncipe estava. Chegando lá, disse ao rei que tinha o antídoto para o feitiço e depositou a lágrima nos lábios do príncipe como a fada havia mandado. Logo ele voltou a sua forma normal, deixando de ser ouro maciço.
Ele acordou meio confuso sem entender o que havia acontecido e com muitas saudades de sua amada. Pegou o seu cavalo e foi ao seu encontro.
Hortênsia pediu perdão a sua irmã que a perdoou. A irmã e o príncipe se casaram e levaram sua mãe e Hortênsia para morar na corte.
Passado-se uns dias, Hortênsia resolveu voltar ao bosque para contar a Fada Doce que tinha dado tudo certo, mas quando chegou lá não encontrou nem casa, nem fada, apenas uma clareira de flores roxas.