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Fotografia de espetáculo

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Mesmo que uns não queiram, o Movimento não para.

Procurei mostrar a força dos jovens da periferia. Não os que caminham para templos religiosos como viciados que correm para a biqueira ao recebe a primeira moeda. Tentei escrever (com a luz) um pouquinho sobre a moçada que acreditam na vida, pois sabem que a morte é certa, sobretudo, para quem nasceu marcado para virar estatística.
Para falar sobre a energia dessas sementes que insistem em germinar entre a fresta que delimita o fim da calçada e o início do asfalto cobri o lançamento do EP, da Banda Kilimanjaro, com abertura do Sarau: Pretas do Peri.
Assim como o espetáculo Fêmea, o show aconteceu no teatro Chico Anísio do CEU Três Pontes, Jardim Romano, SP, numa quarta-feira às 20h, com previsão de encerramento às 22h.
Nunca os tinha visto tocar, mas trabalho com o vocalista, conheço o espaço e os técnicos de som e iluminação, o resto foi surpresa. O texto abaixo ilustra minha relação com o músico e os motivos que me levou a fotografá-los.
Atilla é aquele amigo que todo mundo admira e respeita. Nas horas livres gosta de cantar e cuidar dos filhos. Quando não está cantando, está cuidando dos filhos, quando não está cuidando dos filhos está cantando. Ás vezes faz tudo ao mesmo tempo. Em certos momentos é mais mãe do que pai; em outros, é mais pai do que mãe, sem, no entanto, deixar de ser cantor. E qual é o sonho de todo cantor? Cantar! Responderia meu filho de dez anos. – Não! É montar uma Banda, escrever suas próprias canções, gravar um CD (nem sei se isso existe mais), fazer sucesso, ir cantar no Domingão do FAUSTÃO, diria minha esposa. – Também não! Com esse nome, acho que Atilla não se permitiria ser cooptado pela grande mídia, tampouco participar de programas de auditório. Aliás seria hilário vê-lo com a cara deformada pelo Botox tentando explicar para o apresentador de riso falso, que o racismo no Brasil só existe na cabeça dos esquerdopatas e que homem com homem da lobisomem e mulher com mulher, dá jacaré.
Atilla mora na periferia da periferia, é negro e rasta! Sua Banda chama-se Kilimanjaro, diferente, né? Poucos dias antes de o EP ficar pronto, o guitarrista foi abatido a facadas (ao contrário do que muitos imaginam, sonho de quem nasce na periferia é manter-se inteiro, se possível, viver cada dia como se fosse o último, e se der sorte chegar à idade adulta), por um maluco, tipo esses que estamos acostumados a ver nas redes sociais vomitando ódio e preconceito, inclusive os que deveriam ensinar que “amar ao próximo como a ti mesmo” e o melhor caminho. Mas, “Queixo-me às rosas, mas que bobagem. As rosas não falam. Simplesmente as rosas exalam, o perfume que roubam de ti”, diria Cartola.
Com o EP pronto, o espaço garantido, o show de lançamento agendado, ainda faltava a Kombi para transportar os instrumentos, os equipamentos funcionarem, o patrão liberar o baixista, o trem não atrasar com o novo guitarrista e o velho baterista, o DJ com boné de garoto mau, e a irmã do vocalista que viria de Pirituba; essa, se chegar, seria para o natal. Os demais dar-se-ia um jeito, nem que para isso tivessem que pedir socorro ao seu Zé da Padaria. Coisa Simples para quem nasceu acostumado a matar um leão a cada dia”.
O que usei?
Como na peça Fêmea, levei a Nikon D 610 e as lentes: 24-70 e 80-200, ambas 2.8. Dois catões de memória de 32 Gb, bateria reserva, mochila e colete de fotografo. Dessa vez optei por ISO variável em 4.500, alterando velocidade e abertura de acordo com a necessidade. Não sei o motivo, mas dei preferência a fotografar na vertical, ao avaliar as fotos notei que isso foi um erro, pois poderia mesclar entre vertical e horizontal. Quem abriu o evento foi o Sarau: Pretas do Peri.
O conhecimento do local, acessibilidade e o trânsito livre pelo ambiente, contribuíram muito na captura, e consecutivamente da qualidade das imagens. Se o trabalho ficou abaixo do esperado a responsabilidade é de quem não teve competência para executá-lo. Lamentei a pouca luminosidade na plateia. Quando abri a lente ao máximo e levei a velocidade a 1/30 consegui capturar algumas imagens, com o risco de saírem borradas. Não tive tanta sorte com o baterista que estava praticamente escondido no fundo do palco. Outro ponto que achei bastante significativo foi (pela primeira vez) minha tentativa de ajustar a temperatura de cor, antes de começar o espetáculo. Ao todo, foram 500 clicks, mas revendo as fotos tenho certeza que poderia ter feito o mesmo trabalho com no máximo 300. Possivelmente o excesso de clicks foi por conta da insegurança. Como um Banner com a imagem do guitarrista covardemente assassinado compunha o cenário, busquei a todo instante inclui-lo nas fotografias. Com o público composto praticamente por familiares e amigos, (mesmo sem conhecer) conversei um pouco com a mãe da vítima e vi o quanto estava emocionada, talvez por isso, mas não só por isso, me senti encorajado em fazer o meu melhor.
Fotografei todo o espetáculo em arquivo raw e editei as imagens no programa gratuito Darktable. Um dos critérios que utilizo para avaliar a experiência é a quantidade de fotografias que saem praticamente prontas da máquina. Outro ponto que levo em consideração, é se as imagens ajudaram a contara a história que inicialmente me propus a contar. Por último, e não menos importante, é se durante o espetáculo consegui elevar algumas fotografias ao patamar de ARTE. Por oferecer o que de melhor tinha naquele instante, em nenhum momento me preocupei se as personagens iriam gostar do resultado. Isso posto, avaliei esse trabalho como, regular.
Em tempo: Muitos acreditam que assim como Sansão, a força de Atilla reside nos cabelos. Eu não acredito, mas também não duvido, vai que…. Uma coisa é certa, ao vê-lo no palco dançando com criança senti que o sucesso dele e da Banda pertence também aos que foram prestigiá-los, inclusive eu. Se havia outro fotografo mais capacitado na planteia não posso afirmar. Mas sei de antemão que ninguém melhor que eu poderia registrar o sucesso desses sobreviventes.

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